5.7.07

NOTA DO ENCENADOR


Ao construir este espectáculo no Teatro Maria Matos, tive várias vezes a sensação de ser o líder de um bando de piratas inveterados que toma de assalto um grande navio de uma frota inglesa. Com a diferença de que, no caso da equipa do Maria Matos, os ingleses convidaram os piratas a subir a bordo. E participam, eles próprios, nos mais infames actos de pirataria.
URGÊNCIAS 2007 foi criado em pouco mais de quatro semanas de ensaios, num encontro frenético entre autores, actores, DJ’s, um artista de vídeo, um cenógrafo e desenhador de luz, produtores, técnicos, uma fotógrafa, figurinistas e tantos outros. Enfim, a tripulação que corre de um lado para o outro no convés.
Acreditámos que um espectáculo que fala do que é urgente, pode e deve ser construído obedecendo a esse espírito de urgência. Se cada uma das seis peças que compõem este espectáculo exigiu que trabalhássemos estilos de teatro diferentes, houve sempre este elo a unir toda a obra. A urgência é essa energia que dispensa o acessório para comunicar o essencial.
O espectáculo que vos mostramos conta várias histórias diferentes, mas acima de tudo, conta a história do encontro entre as pessoas que o criaram. É arriscado decidir fazer um espectáculo quando a única coisa que temos é uma equipa e uma pergunta ainda sem resposta: “o que é que temos de urgente para dizer?”. O resultado é imprevisível, mas esse é o risco que desejamos. Tal como é desejada a imperfeição que existe sempre que se arrisca. A imperfeição do teatro. Essa magnífica imperfeição que nos faz gostar de piratas.

Tiago Rodrigues