28.9.04

As vossas urgências

Uma das particularidades do espectáculo URGÊNCIAS é que, nos intervalos entre cada uma das sete peças curtas que iremos apresentar, os actores irão ler em palco algumas «urgências» que os leitores deste blogue nos fizerem chegar.O desafio é simples: enviem-nos textos com aquilo que tem de urgente para nos dizer. Coisas sérias ou nem por isso. Mensagens ao país ou aos vossos parentes. A única condição é que sejam as vossas urgências. Depois basta enviá-las para urgencias@sapo.pt. Publicaremos alguns textos no blogue e, a partir de dia 15 de Outubro, as melhores «urgências» subirão ao palco do Maria Matos.

Segue-se uma urgência outonal enviada por Rui Azevedo.

Aqui estou, ansioso, sentado numa núvem, a olhar para ti.
Tu nem sequer me vês, nem sequer me sentes.
O prazer é, com certeza, todo meu.
Celebro mais um Outono como se o Outono tivesse algo de bom para celebrar.
Uma estação transitória, que apenas dura a queda de uma folha. No Outono não
se celebra a vida nem a morte, celebra-se a queda, celebra-se uma
tranjectória descendente. Quando a folha toca o chão já é Inverno.
Outono, Outubro, ou... ou outra coisa qualquer. Depois do se... de Setembro,
vem o ou... de Outubro. O Outono é uma sucessão de conjunções, de ideias
adiadas para só serem realizadas no... vembro.
Mas ainda assim é bonito. A decadência tem o seu lado belo. A folha que cai,
a árvore que se despe, o céu que se enubla de cinzento, a chuva que chove
mas não molha, o frio que adoenta mas não gela, os dias que encolhem mas não
muito.
Tudo tem a sua beleza.
Tudo tem a sua tristeza.
Tudo transita para o Inverno que se prevê ainda pior.