3.10.04

Atropelar

Uma ideia ou duas ideias. Primeiro, a situação, uma frase que ouvi não sei a quem: «Um ex-namorado é alguém que queremos atropelar».

Quem disse isto? Não sei. Qual a razão pela qual me lembro disto, eu que não me lembro de nada? Não sei. Nunca quis atropelar ninguém. Nem sequer conduzo, e mesmo que conduzisse. Nunca me apeteceu atropelar uma «ex-namorada» (a frase vale para ambos os géneros). Não sei sequer se tenho ou tive «ex-namoradas». Se alguma vez fui «ex-namorado». Estas coisas terão certamente um critério científico, que defina o que é um «namoro», para que depois se designem apropriadamente as partes cessantes. Mas admitamos que fui «ex-namorado», que tive «ex-namoradas», que brutalidade é essa de atropelamento? Sou um adepto de separações pacíficas, creio que o tenho conseguido, enfim, faço o possível. Não sou nada dado a detestações maníacas. A frase não tem nada a ver comigo.

É uma observação. Então assentamos nisto. É sobre os outros. E os outros dizem e sentem coisas assim. Não eu. Estou mais confortado.

Ou então «atropelar» não é atropelar. A peça não é certamente sobre desastres de automóvel. É sobre o quê, então? PM