3.10.04

Urgências

Fui convidado para este projecto: «Urgências». E a primeira coisa que me ocorreu foi que tinha um conto passado nas urgências de um hospital. Um conto, não: um vaguíssimo plano para um conto. Que nunca se tinha concretizado. Demasiado diálogo, nenhuma acção. Estava na gaveta, talvez nunca saísse da gaveta. Mas agora, de repente, era a resposta a um convite. Uma resposta deliciosamente literal. «A minha urgência é fazer um conto que se passa nas urgências». Um conto? Uma peça, diz-se uma peça. Meio termo: um «texto para teatro».

Assim ficou. Mas uma ideia nunca é urgente. Que urgência havia nesse texto? Nesse texto que nem texto era ainda? Que urgência intrínseca, para além da vontade de se fazer texto? Qual era a urgência num texto tão urgente que ficara esquecido na gaveta? Que nem texto era porque nunca fora escrito?

O texto da minha urgência é sobre a minha urgência? Desde que o apresentei, dei comigo a dizer a toda a gente que o texto «não é autobiográfico». E não é. Mas se não é, qual a necessidade urgente de o dizer? Medo que pensem que é? E medo porquê? De quê? Sobre que urgência é o meu texto para me suscitar tal cautela? Já o sei ou só saberei, como os outros, na estreia?

A minha Urgência chama-se «Genebra». PM