8.10.04

Aqui e agora

Se o teatro é o que acontece no momento irrepetível – único, em que actor e espectador se encontram num sítio
Se o teatro é o aqui e o agora
Eu sonho e quero a perfeita imperfeição de um teatro do aqui e agora
Um teatro do presente – do presente da tele-realidade, da mediatização, da overdose informativa permanente, das múltiplas imagens, ficções, intangibilidades - um teatro que, no coração da distância, do isolamento e do cocooning, seja o encontro: o reality show real
E que o sítio de onde se vê seja a cidade, os mil palcos da cidade
E que o texto do teatro seja o texto inacabado dos dias, o registo e a partitura do work in progress progredindo sempre
Que não sejam clássicos, repertório, a não ser que os reescrevamos com a mão do nosso tempo
Eu sei que é sempre o sexo, o amor, o poder, a solidão, a morte – mas eu preciso de senti-los como o meu sexo e o teu sexo, o teu amor e o meu amor, o teu poder e o meu poder, a nossa solidão, a tua morte e a minha morte
Como espectador ou como dramaturgo, quero um texto onde pulse o meu tempo no corpo e na voz dos actores que comigo partilham esse tempo e esta inquietação
No teatro acreditando, suspensos na incredulidade de sermos nós próprios
Aqui e agora.
NAS